quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Busto de Ademir da Guia mudou os rumos do Palmeiras afirma Rocco Escultor quando da criação de seu busto para o Palmeiras

Terça, 26 de agosto de 2008, 09h10 Atualizada às 17h21

Escultor: busto de Ademir quebrou "Maldição do Divino"

Bruno Ceccon
Especial para o Terra
Ademir da Guia vestiu a camisa do Palmeiras em uma partida oficial pela última vez em 1977. Sete anos depois, fez um jogo de despedida. Em 1986, ano da derrota do Palmeiras diante da Inter de Limeira na final do Campeonato Paulista, ele ganhou um busto no Palestra Itália. No entanto, a peça não caiu nas graças da torcida. A obra ficou diferente das feições do antigo camisa 10 e foi amplamente criticada. O ex-zagueiro Domingos da Guia, conhecido como "Divino Mestre", teria dito logo depois do descerramento do pano: "esse não é o meu filho".

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No momento em que o pai de Ademir não reconheceu o próprio herdeiro no busto, teria sido lançada a "Maldição do Divino". De acordo com a lenda, enquanto Ademir da Guia não fosse homenageado com sucesso, o Palmeiras jamais voltaria a conquistar títulos importantes. "Eu sempre chamei o primeiro busto de 'homenagem ao atleta desconhecido'. Parecia o Biro-Biro, o Manga, qualquer coisa, menos o Ademir da Guia", recorda Fernando Pizo, atual assessor do presidente Affonso Della Monica.
O busto foi feito baseado em uma foto. Para Ademir, este é o motivo da falta de semelhança da peça com sua fisionomia. "Ficou muito diferente. Essas coisas precisam ser parecidas, você tem que olhar e perceber que tem os traços da pessoa. Meu pai também não gostou", recordou. O ex-jogador lembra bem da maldição lançada neste momento, assim como Fernando Galuppo, estudioso da história do Palmeiras. "Essa foi uma das lendas que surgiram na época para justificar a falta de títulos", afirmou.
Enquanto o busto permaneceu no Palestra Itália, o Palmeiras viveu o maior jejum de seus 94 anos completados nesta terça-feira. Quando começou a fazer parte da diretoria no começo da década de 90, Fernando Pizo capitaneou a campanha para erguer uma nova estátua. Nelson Rocco tomou conhecimento do interesse do clube e foi até o escritório do dirigente para se oferecer. No entanto, uma artista plástica já havia sido contratada para fazer o trabalho. "Fiquei muito chateado. Eu estava indo embora, mas resolvi deixar o meu cartão com ele por via das dúvidas", recorda o escultor.
Para não repetir o fiasco de 1986, Fernando Pizo foi até o ateliê da artista observar a obra uma semana antes da data programa para a inauguração. "Ela acabou fazendo um busto estilizado, que também não representava o Ademir da Guia", explica o dirigente. Preocupado, ele entrou em contato com Nelson Rocco através do cartão de visita deixado pelo artista três dias antes. "A estátua tinha falhas irreversíveis, tecnicamente era impossível de reformar", diz o escultor. A data para apresentar o novo busto foi adiada, e Rocco ficou com o serviço.
A inauguração aconteceu em uma cerimônia simples, no dia 19 de dezembro de 1992. Praticamente sem a presença da imprensa, diante de poucos espectadores, o então presidente do clube, Carlos Facchina Nunes, fez um discurso de improviso e a nova peça foi apresentada. Um dia depois, Palmeiras e São Paulo disputaram o segundo jogo da final do Campeonato Paulista. Depois de vencer a primeira partida por 4 a 2, a equipe de Telê Santana, recém-campeã mundial, levou a taça estadual ao ganhar novamente, desta vez por 2 a 1, diante de 110.887 pagantes, um dos maiores públicos da história do Morumbi.
O revés diante do São Paulo teria sido o último capítulo da "Maldição do Divino". A partir de 1993, com o novo busto de Ademir da Guia no Palestra Itália, o Palmeiras viveu uma de suas fases mais gloriosas. O título paulista da temporada, conquistado em cima do rival Corinthians, veio para quebrar um jejum de 16 anos. "Depois da inauguração da estátua, por coincidência ou não, o Palmeiras montou um time fantástico e voltou a ganhar tudo", gaba-se Nelson Rocco. Hoje, a peça antiga repousa entre outros objetos descartados dentro de uma sala do clube.

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